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O Corpo Chora: uma associação entre Trauma e Dor
Gastão Ribeiro
Em 1975 a Associação Internacional para o Estudo de Dor, definiram a dor como uma experiência sensória e emocional desagradável associada com dano atual ou potencial de tecido.
Inicialmente a definição de dor estava associada a uma experiência emocional em função de um problema físico. Secundariamente foi necessário definir um tipo de dor que ultrapassa a nossa compreensão e este é um conceito que esta evoluindo.
Porém, apesar deste pronunciamento, persistem ideias velhas. Muitas pessoas ainda agem como se dor só fosse compreensível em termos de causas físicas, por exemplo, médicos que não tratam o cliente quando a causa física da dor não pode ser encontrada ou médicos que se recusam a dar um medicamento pelas mesmas razões.
Em resumo, dor é determinada e definida através da ciência. A ciência é um produto que é determinado através da cultura. As mudanças culturais é diferente de um lugar para outro. Portanto a dor não é um conceito fixo em termos de tempo ou espaço, mas um conceito que vem evoluindo. Como resultado das mudanças na conceitualização da dor, ocorreram mudanças em seu tratamento: devemos fazer um aproximação Multi disciplinar. O tratamento da dor deve envolver uma combinação de tratamentos médicos: drogas e cirurgia, terapia física, e aproximações psicológicas como Grupo Comportamentais, terapia Cognitiva, etc. E métodos como relaxamento, hipnose, acupuntura, pacotes de calor, etc.
Dor crônica é diferente de outros problemas médicos, pois estes podem ser tratados com relativa facilidade. Dor crônica é uma enfermidade complexa, causada e mantida por uma combinação de fatores físicos, psicológicos e neurológicos.
Dor e Dissociação
Dissociação foi um termo criado por Janet no final do século XIX para descrever um estado mental onde ocorre um rompimento de consciência. Durante a Dissociação o individuo experimenta distorções de memória, afeto, percepção ou senso de identidade. É comum ocorrer durante a Dissociação alterações de percepções, como: sensações somáticas, tempo, períodos de amnésia, irrealidade e despersonalização. Em estados clínicos mais graves ocorrem sintomas de conversão, estado de fuga e desordem de personalidade múltipla (Desordem Dissociativa de Identidade).
A Dissociação ocorre quando a ansiedade se torna tão esmagadora que certos aspectos da personalidade se tornam dissociados ou se dividem um do outro. As manifestações de dissociação servem para proteger o individuo do conflito que produz a ansiedade. A Dissociação é um mecanismo de proteção psicológica ao medo e a ansiedade.
A Dissociação também pode aparecer como sintomas somáticos. A distorção da consciência proprioceptiva do corpo é um fenômeno dissociativo comum. Ela esta geralmente associada à parte ou região machucada do corpo, especialmente a uma das extremidades. A dor vaga é o sintoma que mais comum. A dor vaga pode ser definida como certos estados de mal estar e dor que não são discrimináveis, quer quanto ao local, quer quanto à característica (pontada, aperto, cólica, ela é contínua, intermitente).
O paciente relata insensibilidade em uma das extremidades, como uma sensação muito difícil de ser descrita. As anormalidades também podem aparecer na postura. Os exames de parte do corpo envolvidos podem revelar mudanças sensoriais, mas normalmente são interpretadas como “não fisiológica por natureza”. É comum a sensação de anestesia para dor, toque e sensação vibratória e perda de força. Estes pacientes quase sempre são diagnosticados como sofrendo de histeria de conversão.
Na dor crônica causada por TEPT, vemos que a postura inconsciente do paciente não reflete tão somente a dor, mas também a experiência do evento traumático que produziu a dor. Muitos desses pacientes manifestam “achados fisiológicos” que os rotulam como pacientes de dor crônica, fibromialgia por seus médicos.
A histeria de conversão, ou “reação de conversão” foi descrita inicialmente em detalhes por Janet e Freud. A conversão é considerada uma proteção contra níveis intoleráveis de ansiedade ou medo. A ansiedade é “convertida” em sintomas nos órgãos ou outras partes do corpo e geralmente apresentam-se como sintomas neurológicos sensoriais ou motores. Estes sintomas representam o conflito mental, gerando ansiedade.
A reação de conversão então é um exemplo de dissociação somática em resposta a uma reação ao trauma. O paciente com reação de conversão tem um trauma no passado, que associado com um novo trauma no presente precipita o sintoma de conversão. Frequentemente os clientes com conversão tem um histórico de abuso severo na infância.
Dor e Congelamento
A Dor pode ser uma manifestação somática dissociativa, criada no momento do trauma. Os sintomas do Transtorno de Estresse Pos-traumático formam um processo em espiral que acionam os mecanismos biológicos mais primitivos que faz parte da nossa herança evolutiva. A reação do organismo para sobreviver a uma ameaça, é: fugir, lutar ou congelar Quando as respostas de fuga ou luta são impedidas, a imagem do evento fica congelada, criando uma grande confusão nas pessoas, impedido-as de ter uma vida normal.
As respostas de lutar, fugir ou congelar frente a uma ameaça fazem parte essencial dos meios de sobrevivência das espécies. São recursos de proteção, acionados diante a uma ameaça, depois de passado o perigo, meios biológicos e psíquicos desfazem o efeito de tais experiências.
Após algumas experiências traumáticas estes mecanismos entram em ação de modo inadequado, fazendo surgir reações patológicas entre ela a dor. Pois os sintomas traumáticos não são causados pelo acontecimento desencadeador em si mesmo. Eles vêm do resíduo congelado de energia que não foi resolvido e descarregado; esse resíduo permanece preso no sistema nervoso onde pode causar danos corporais e emocionais.
Os danos corporais ficam armazenados no corpo como memórias corporais do trauma, isto é, um fenômeno dissociativo. Dores como Fibromialgia, dor Miofascial podem ter a sua origem em momentos de congelamento geralmente ligados a trauma acontecidos na primeira infância. Os sintomas em longo prazo são debilitantes e freqüentemente bizarros e se desenvolvem quando não podemos completar o processo de entrar, atravessar e sair da “imobilidade” ou do estado de “congelamento”.
O Mapeamento do Trauma e Dor
É fundamental no trabalho com dor o Mapeamento do Trauma. O Mapeamento do Trauma é uma aproximação terapêutica centrada no cliente, na qual o terapeuta trabalha para identificar as memórias traumáticas e especificar qual será o enfoque de tratamento ao utilizar as técnica de trauma e o EMDR. Seguindo um protocolo definido, o terapeuta ajuda o cliente a identificar as imagens traumáticas, a explicação, as emoções e as sensações de corpo. O Mapeamento do Trauma utiliza a algumas técnicas básicas: Linha da Vida, Linha de coincidências, aniversário do trauma, escala SUD, entre outras. Posteriormente faze-se a dessensibilização do trauma a partir do Mapeamento.
Os pacientes traumatizados tem uma tendência à repetição das situações traumáticas, e há três tipos de fatores que não se excluem e freqüentemente se combinam: repetir por causa de defeitos neuromentais que impedem a superação do padrão traumático; repetir para elaborá-lo; repetir por motivo das funções secundárias, estruturantes, defensivas, narcísicas e prazerosas que o padrão adquiriu.
Mapear um Trauma é buscar as percepções corporais associadas às percepções cognitivas, perceptuais e comportamentais durante o evento traumático associado situações traumáticas que se repetem em função da compulsão a repetição. O Mapa é formado de percepções, papéis e visões de mundo apreendidos nas relações íntimas e familiares, usado para reassociar experiências traumáticas, associados as repetições que se fazem durante a vida.No trabalho terapêutico com Dor Crônica é fundamental Mapear as situações traumáticas buscando o trauma original que contém as memórias corporais dissociativas de dor. Geralmente são traumas múltiplos que devem ser separados em dez memórias que serão trabalhadas individualmente.
EMDR e Dor
O uso de EMDR para enfocar a dor consiste em uma combinação de vários elementos e de aproximações, inicialmente é preciso mapear o trauma e depois associar a inovações como enfoque dual de atenção e estimulação bilateral. Um dos elementos centrais de EMDR é um procedimento de dessensibilização no qual é pedido ao paciente para se concentrar nos pensamentos negativos e em sensações associadas com o problema, enquanto se submete a uma estimulação e a uma estimulação bilateral (visual audível ou tátil). Isto provoca uma mudança no nível de angústia associado com o problema.
Apesar dos clientes que trazem dor crônica terem uma história de vida, devemos priorizar inicialmente o diagnóstico médico da Dor e depois o tratamento psicológico da dor. Pedindo uma revisão da investigações e tratamentos médicos apropriados, e uma diagnóstico preciso da dor para depois tratarmos os efeitos psicológicos dela.
Grant delineia 5 tarefas de administração de dor psicológica projetadas para assegurar que serão satisfeitas as necessidades médicas e psicológicas de quem sofre de dor (Grant, 1999).
As cinco tarefas de administração de dor são:
1. Se assegurar que a dor está dentro de níveis toleráveis e aceitáveis.
2. Pedir uma revisão do diagnostico médico e das atitude do cliente para a patologia apresentada.
3. Identificar e priorizar “objetivos” para reprocessar com o EMDR.
4. Facilitar ou ensinar relaxamentos que possam mudar as sensações de dor.
5. Desenvolver recursos que consigam administrar psicologicamente a dor.
A primeira tarefa a ser executada é conferir se a dor está sendo administrada adequadamente. É necessário distinguir se existem e quais são os níveis toleráveis e intoleráveis de sofrimento. Pois clientes com níveis excessivos de desconforto físico estão freqüentemente ansiosos o que pode diminuir a potencia do uso de EMDR. Assim a primeira tarefa do terapeuta é assegurar que a dor do cliente está em um nível de controle adequado. Pacientes com dor extrema e com angústia intensa, podem estar impossibilitados em executar um nível de concentração que a administração psicológica da dor requer. Devemos priorizar o combate à dor extrema e a angústia, antes de processar o EMDR.
A presença de um diagnostico médico, junto com a atitude adequada do cliente é de suma importância. A presença de um diagnostico é necessária para podermos avaliar a experiência de dor. Podem haver casos onde não haja nenhuma explicação médica adequada sendo isto ocorre em até 85% de casos de dor crônica. Pacientes onde o grau de ansiedade esta associado a um diagnostico incerto tem normalmente pouca motivação para tratamento psicológico. Uma vez que é estabelecido que a dor do paciente esteja dentro de limites toleráveis e existe uma concordância com o diagnóstico, podemos então começar as intervenções psicológicas para mudar a experiência de dor.
A terceira tarefa é o inicio do tratamento psicológico para tentar transformar a experiência de dor. Inicialmente tentamos identificar os principais alvos a serem tratados, use para isto o Mapeamento do Trauma. Quem sofre de dor crônica invariavelmente esta buscando alívio da dor, ou um melhor controle sobre ela, porém, cada paciente tem prioridades diferentes de acordo com a sua personalidade, circunstâncias de vida, grau de sofrimento e angústia etc. Portanto é necessário trabalhar as prioridades de todos os pacientes de acordo com as suas necessidades individuais.
A quarta tarefa é a dessensibilização e reprocessamento. Aqui devemos enfocar os pacientes na sua própria dor enquanto fazemos à estimulação bilateral. Após cada set de estimulação bilateral o terapeuta pede ao cliente que descreva qualquer mudança, e o ajuda facilitando a sua interpretação cognitiva. Por exemplo, depois da estimulação bilateral o terapeuta pergunta para o cliente “o que nota você agora”. O cliente informa que a dor é mais suave ou menor, esta convicção sobre a sua habilidade para controlar a dor poderia mudar de “eu me sinto impotente” para “eu posso aprender controlar minha dor”.
A quinta tarefa é integrar as mudanças das sensações físicas do cliente cognitivamente. Peça que visualizem ou criem associações entre os sentimentos de alívio e as recordações de situações ou coisas que os fazem lembrar do sentimento de dor. E existem um set de perguntas projetadas para facilitar estas associações. Estas incluem; “O que tem agora no lugar onde a dor estava?” “e” O que você fará agora com as recordações daquele sentimentos? “Por exemplo, o cliente que sente a dor mais suave, poderia pensar em uma lã de algodão.”
As respostas dos pacientes são desenvolvidas e são reforçadas com a instrução “fique com isto” ou “pense nisto”, fazendo a estimulação bilateral e o encorajando simultaneamente. Normalmente os clientes informam qualquer fortalecimento de mudanças positivas. Peça então que eles pratiquem em casa pensando em uma imagem que signifique uma anti-dor usando uma estimulação bilateral (isto pode ser alcançado por ego-excitação na forma de auto estimulação, ou escutando a uma fita ou Cd estéreo de tons auditivos bilaterais sugestionado pelo terapeuta). Peça ao cliente que pratiquem esse exercício durante cinco ou dez minutos várias vezes ao dia.
Terapias Energéticas e Dor
Em tudo que se vê: sol, lua, planetas, no sistema solar, nas estrelas, existe energia. No nosso mundo existem energias positivas e negativas, que nos afetam continuamente de um milhão de maneiras. Nossos pensamentos, emoções são energia, e nossas ações como ler este texto são formas de energia.
Aquilo que chamamos de Terapia Energética tem como objetivo utilizar técnicas que ajudem a usar a sua energia vital para resolver os problemas emocionais e físicos. O principio básico é entrar em contato com o sistema energia, equilibrá-lo eliminando as causas dos problemas emocionais.
A Psicoterapia de Energia proporciona aos terapeutas acessar o problema sem um entendimento cognitivo, a trabalhar as dificuldades sem ter que analisar e discutir os aspectos da vida. Utilizando os processos de auto cura do corpo.
A questão essencial da psicologia energética é o desequilíbrio que proporcionam os distúrbios. As Terapias de Energia baseiam-se no modelo da medicina chinesa de meridianos de energia. Os meridianos são linhas longitudinais que conectam diversos pontos análogos do corpo humano. Este estudo parte do princípio que ao ser ativado um ponto do meridiano, outras partes do organismo estarão sendo igualmente estimuladas.
Esta nova abordagem acredita que as emoções assim como as dores são as resultado de bloqueios na circulação de energia através dos meridianos do corpo. O desbloqueio desta energia se dá pela percussão em certos pontos de determinados meridianos, realizada pelo próprio cliente. Acredita–se que certas reações corporais como a dor provêm de perturbações energéticas que bloqueiam o processo de recuperação da circulação da energia. Frequentemente certos estados de dor se dissipam em poucos minutos, incluindo estados resultantes de inúmeras exposições a experiências traumáticas.
As principais Técnicas que utilizam destas novas abordagens, são: TFT Terapia do Campo do Pensamento; EFT Técnica de Liberdade Emocional; TAT Técnica de Acupressão de Tapas Fleming. O TAT tem se mostrado uma das ferramentas mais poderosas no controle e administração de dores, pois acessa as memórias corporais dissociativas criadas no momento de congelamento do trauma através do acesso de das memórias celulares.
Fontes:
GRANT, Mark(1999) – A Multi-Modal Approach Based on EMDR -http://www.overcomingpain.com/multi.html
LEVINE, Peter (1999) – Despertar do Tigre – Summus Editorial
SCAER, R. (2001). The Body Bears the Burden: Trauma, Dissociation and Disease, Binghampton: – The Haworth Press, 2001.
SHAPIRO, Francine – Eye Movement Desensitization and Reprocessing – The Guilford Press; 2nd edition (August 6, 2001)
RIBEIRO, Gastão (2006). Apostila do curso: V/KDT e Novas Perspectivas da Psicoterapia do Trauma – Espaço Trauma, Belo Horizonte.